FRANÇA, INÍCIO DA DÉCADA DE 1990
Sonia Hoffmann (Liv Ullmann) é uma física desiludida com os rumos tomados pela ciência. Após descobrir que suas pesquisas com microlasers estavam sendo utilizadas no projeto americano Guerra nas Estrelas, ela decidiu isolar-se em um vilarejo francês para repensar a vida. Embora tendo a chance de conviver um pouco mais com a única filha, enfrenta um processo difícil desta convivência e o atrito entre as duas acaba sendo acentuado porque suas percepções do mundo divergem completamente.
No mesmo país, na capital, vive o poeta Thomas Harrimann (John Heard). Ele abandonou a cidade de Nova York por não suportar um modo de vida mercantilizado e refugiou-se no velho mundo para recuperar-se da decepção profissional e de um casamento fracassado, e para tentar superar, com tranqüilidade, a crise de meia idade que o acomete. Na América no Norte, seu amigo Jack Edwards (Sam Waterston) é um político bem sucedido. Porém, após perder as eleições para presidente dos Estados Unidos da América, sente-se esgotado, confuso em relação aos rumos de sua carreira e solicita socorro. Edwards recebe um convite de Thomas para passar uma temporada na França e o encontro dos dois com Sonia Hoffmann marca o início do conflito proposto em Ponto de Mutação.
O cenário onde a trama tem sua evolução é um castelo no litoral noroeste, no alto do Mont Saint Michel. Uma construção medieval localizada na fronteira com a Normandia e a Bretanha. A região é famosa por possuir a maré m
Por fim, o poema de Pablo Neruda (postado acima) representa uma metáfora sobre todo o dia em que os três personagens passaram juntos e sobre o que suas vidas
representavam diante das idéias que se propuseram a pensar. O poema, algo também meio distante e às vezes incompreensível, também junta a teia de relações que é a humanidade. Diante das teorias frias e puras da cientista e das idéias práticas do político, a poesia recitada pelo poeta os faz calar e refletir sobre o que suas vidas têm feito nesse processo, sobre como eles têm contribuído com sua parte diante do todo. A razão do pensamento científico passa a fazer sentido no calor das palavras do poeta, ao aproximar-se da vida comum e rotineira das pessoas.
Além de Pablo Neruda o filme possui, ao longo de sua construção, referências a diversos escritores, poetas, estadistas, cientistas e figuras religiosas. A integração destes pensadores é dada pelo tom da narrativa, cujo objetivo é defender um modo de vida integrado, porém, provido de essência. A vida não se resume a uma máquina e nem a uma rede de conexões bem feitas. Existe algo maior que é fruto da convivência, da vida em comum. Os argumentos de Jack, Tom e Sonia foram recheados de citações que transformaram o conteúdo científico, religioso e filosófico do filme em poesia, em diálogos permeados de sentimento e significado. Algumas das referências seguem abaixo.
Ao dizer que nenhum santo sustenta-se sozinho, Thomas cita parte de um poema de John Donne para Jack na entrada do castelo:
Nenhum homem é uma ilha isolada;
cada homem é uma partícula do continente, uma parte da Terra
(…)
E por isso não perguntes por quem os sinos dobram;
eles dobram por ti.
Este poema inspirou um romance de Ernest Hemingway, Por Quem os Sinos Dobram, que foi baseado na experiência do escritor americano como correspondente de guerra.
Não é um filme fácil de ver, mas o aprendizado compensa.

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