COSTA
JUNIOR, Vander Luiz Pereira. Os jovens
operários da advocacia: um estudo sobre a precarização do trabalho nos
escritórios de contencioso de massa/ Vander Luiz Pereira Costa Junior. –
Salvador, 2016 – capítulo 1: A
metamorfose do capitalismo: crise e contradições.
O
sistema capitalista é a forma de organização social e produtiva que se sagrou
hegemônico no mundo dito moderno. O aludido modelo econômico ostenta como norte
precípuo a busca pelo lucro através da apropriação individual do processo coletivo
de geração de valor, legitimado por arcabouço jurídico, ideológico e
institucional que garante a manutenção do sistema (HARVEY, 2013b).
A
premissa do crescimento econômico permanente exige que o trabalhador
constantemente injete na mercadoria mais valor, para que o capitalista possa
trocar o bem, acrescido de nova ou refinada utilidade, em montante acima do
custo produtivo. Desta equação, o lucro é retirado e o excedente reinvestido na
busca de majorar a curva de acumulação, perpetuando o crescimento do capital.
O
totalitarismo do valor afundou a humanidade em um processo de negação
denominando por Fukuyama (1992) de “o fim da história”. O aludido autor
sustentava que o progresso político da sociedade alcançara o seu ápice com a
consagração da democracia liberal, último patamar da escala evolutiva, em sua
excêntrica ótica.
Dito
isto, desvelar a razão conceitual em que se funda o capitalismo é ponto fulcral
para discutir a crise. Por conseguinte, as oscilações do sistema e o objeto de
análise são fruto de uma das variações do modelo de produção em busca de
contornar as contradições do sistema.
A
extravagância do crescimento infindável depende da exata equivalência entre
produção e capacidade social de consumo. Caso contrário, o excesso de produtos
sem destinação aniquilaria o preço, prejudicando ou inviabilizando o próprio
processo de acumulação (HARVEY, 2013b).
O
desequilíbrio entre salário dos trabalhadores e produção, denominado de
mais-valia absoluta, afeta a capacidade de absorção de bens pelo mercado de
consumo (que se confunde, em parte, com o próprio trabalhador assalariado).
A
insuficiência do emprego funciona como instrumento para equalizar o montante
pago a título de salário, além de ser um hábil mecanismo de coerção e ameaça
para a classe trabalhadora, subjugando os obreiros às vicissitudes impostas
pelos patrões (OFFE, 1985).
A
exata equivalência entre trabalhadores e emprego elevaria o salário de forma
exponencial a ponto de fazer ruir o modelo. Portanto, o exército industrial de
reserva é uma condição sine qua non para equacionar a lei da oferta e da
procura pela mão-de-obra entendida como mercadoria, mantendo os salários em
níveis toleráveis para o capitalista. Logo, a população disponível é parte
indissociável do sistema.
A
revolução tecnológica na transição do século XIX para o século XX (com o
domínio da energia elétrica, das técnicas de metal-mecânica,
químico-petroquímica) possibilitou a decomposição da cadeia produtiva e
simplificação das tarefas, bem como rigorosa mensuração e disciplina do tempo
de trabalho. Isso se reverberou em crescimento exponencial da produção e
barateamento do processo produtivo.
Ford
acreditava na força das corporações para conservar harmônico e palatável o
sistema capitalista, sobretudo ao dominar o processo produtivo com austeras
regras de aproveitamento da força de trabalho. O modelo pretendeu, ademais,
criar um novo ser humano disciplinado, docilizado ao trabalho e adestrado ao
consumo, com o escopo de reinvestir seus ganhos adquirindo bens
industrializados, mantendo ativa a engrenagem do capital.
Imbuído
na autopreservação, o capitalismo sofre mais uma metamorfose denominada por
Harvey (2011) de acumulação flexível. A suposta rigidez e garantias sociais do
fordismo não se coadunam mais com o novo momento de escassez de mercado,
fomentando a ruptura da conformação fordista e a sucumbência do Estado de
Bem-Estar Social.
O
Brasil não vivenciou o pacto fordista firmado em torno do Estado do Bem-Estar
Social. O mencionado país experimentou o que Borges e Druck (1993) denominaram
de Estado de Bem-Estar das Empresas. Houve benefícios decorrentes da iniciativa
privada, outorgados a uma parcela reduzida de privilegiados que laboravam em
companhias de médio e grande porte, quando da industrialização do país.
A
determinação traçada pelos credores internacionais logrou êxito. O Brasil
aquiesceu à desestatização e à desindustrialização nacional. Assentiu com as
privatizações em larga escala, bem como com a cessão de áreas estratégicas,
promovendo arrocho de direitos sociais. Tal acontecimento foi denominado “A
Contra-revolução liberal-conservadora desencadeada pela mundialização do
Capital” (MELLO, 1997, p.163).
O
afastamento do Estado da responsabilidade social possui efeito dúplice, na
medida em que garante equilíbrio financeiro, avalizando o pagamento da dívida
externa, abre margem às empresas privadas empreenderem em áreas outrora
reservadas ao setor público, a bem da lógica auto expansionista denunciada ao
longo da dissertação.

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